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Derivando da antiguidade remota, para um passado ainda fresco nas memórias e nas palavras de tantos, Mértola protagonizava uma cobiçável vantagem em comunicações, riquezas minerais, comércio e centro estratégico de logística e de defesa. Foi assim até ao fim do Período Islâmico, aqui encerrado por decreto da Ordem de S. Tiago e Espada em 1238. Em vigor estão ainda até aos nossos dias, as leis dos relacionamentos das gentes com o meio. E entre si mesmas, nos indeléveis traços culturais e humanos mais consagrados, a que os decretos e as mudanças dos regimes são incapazes de pôr fim.
Sabia-se desde sempre, que as franjas do Império Romano que se ocuparam desta região, depois de neutralizado o seu mais resistente opositor, exerceram intensa actividade mineira em S. Domingos. Desse tempo, se perpetuaram até ao presente as extensas galerias escavadas à medida de corpos esbeltos, que os mais arrojados admitem terem sido as crianças, as principais visadas como força de trabalho naquelas masmorras infernais.
Recentemente, interpelando o meu mestre de humanidades, Dr. Cláudio Torres, sobre se a exploração dos metais tinha sido motivo de desinteresse durante a ocupação islâmica, acabou por me definir que assim se pensou durante muito tempo. Mas informações recolhidas recentemente, como quase tudo do antigo que se nos devolve novo ao presente, revelam que os Árabes tiveram aqui importante actividade de exploração mineira. Ao contrário do que praticamente até hoje se veiculou.
Mértola sempre dependeu mais da mineralogia, da troca e do contacto, do que propriamente das actividades de produção agrícola. Os solos de Beja e de Serpa, de Moura e de Castro Verde, até Aljustrel e Almodôvar, são férteis e generosos. Mas os de Mértola, embora não indiferentes, são menos substanciais, adequando-se mais às silviculturas, pastorícia de menor escala e pequenas hortas. Campos fundamentais da subsistência alimentar das comunidades que aqui se assentaram, lhe deram a forma e a garantia da sua progressão através dos tempos, e por isso, igualmente ricos de generosidade e de nobreza.
A Minha Aldeia é Santana! Cantou o Poeta António Rosa, quando quis dizer, Moreanes é o Meu Povo! Na verdade, as duas localidades são satélite uma da outra. Santana é a Sede de freguesia, mas Moreanes é o seu primeiro pólo de contacto com as vias de comunicação nacionais. Santana, mais oculta atrás dos cerros que quase a fazem resvalar para Espanha, sempre sentiu um inconfesso ciúme de Moreanes, talvez pela posição mais vistosa de que esta desfruta. Mas nos últimos tempos, os laços entre as duas povoações têm-se solidificado.
O Poeta António Rosa, embora já falecido, continua a ter razão. As duas são no seu amor intemporal, uma só. E por muito tempo que demore, a natureza inspiradora dos Poetas, acabará por constituir uma curiosa descoberta, na razão que não lhe foi dada, aquando dos actos das suas revelações. Porque não evocar Luis Vaz de Camões, ou mesmo Antero de Quental...?
Talvez por isso, se situem os Poetas à frente do tempo. Se os políticos percebessem capazmente o fenómeno, os recursos estariam mais de acordo com as necessidades objectivas das sociedades. Não se deixariam certamente controlar pelo poder financeiro ou aliciar pelos seus vícios. Mantendo na via do progresso as responsabilidades em que os eleitores os investiram e lhes confiaram no acto de votar. Ao mesmo tempo que valorizavam a necessidade constante de evolução da própria Democracia, no sentido de debelar as suas enormes misérias. Apesar da diversidade ideológica, do necessário debate decorrente das diferenciadas opiniões e correntes político-partidárias, talvez os detentores do poder, ou os que lutam por ele, se soubessem colocar mais de acordo com os seus deveres de coesão e pacificação das sensibilidades colectivas. Tornando-as mais disponíveis para a participação e integração na própria cidadania. Ou será que se preferem mais os obedientes em lugar dos críticos...?! Não fora os sinais de exemplares exercícios governamentais, que fazem de Portugal a vanguarda e o espelho da dignidade social no Mundo, quase mil anos depois da sua fundação...
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Copyright: Germano Vaz - World Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores - 6/2009
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