Ter-me desviado um pouco da abordagem do fim da Época Islâmica e das actividades que durante esse período aqui ocorreram sobre os recursos minerais, para falar de Moreanes e Santana de Cambas, é porque estas duas localidades estão bem no coração das actividades mineiras. E Mértola, como já sabemos, esteve sempre inscrita nas antigas rotas do Ouro, da Prata, do Cobre e do Estanho.
O brilho de Mértola, enquanto polo de dinâmicas comerciais e civilizacionais, não teve sempre a mesma intensidade. E tenho noção exacta de que cidades em outros pontos geográficos do ângulo mediterrânico, a superam em projecção e dinâmica. Mas aqui falo do Interior. De um ponto já muito recuado nas rotas de navegação fluviais da antiguidade, a que Mértola ainda teve acesso. Dada a natureza do seu Rio, navegável ao longo de 70 quilómetros, daqui até ao Golfo de Cádiz.
Três ou quatro aspectos fundamentais guardam ou revelam o que me trouxe a este ecrã. E de forma generalizada, ao universo da comunicação. Atravessando sempre o espaço, orientado pelo sentir que me nasce do relacionamento íntimo com estas paisagens.
Ter tido a oportunidade de presenciar a Mina de S. Domingos ainda a trabalhar em seus derradeiros dias, e ter sido um pequenino protagonista do drama representado na realidade sobre o palco do seu inferno, são aspectos, a par dos que se seguiram, componentes sócio culturais que de imediato se sedimentaram em mim como genéticas, não podendo nunca mais deixar de as ter como referências cruciais, em todas as minhas orientações e escolhas.
Ter observado o meu primeiro ecrã no fundo branco da parede do meu quarto, ao despertar de uma sesta, e as imagens da rua em frente que nele se projectavam e moviam inversamente, emitidas a partir de um pequeno orifício que havia na janela atrás de mim, a envolverem-me como se no interior de uma câmara de cinema gigantesca, tomei aí noção solitária, de que aquele momento, mais era uma informação e uma ordem surpreendentes, que eu tinha de interpretar e seguir. Certamente que este acontecimento, ocorreu antes da minha primeira visita a Mértola, ainda não tinha 5 anos de idade.
Não menos influentes, foram a minha proximidade afectiva a José Afonso. O grande comunicado que o seu espírito irradiou na Obra Cantigas do Maio, forçando o acontecimento do 25 de Abril de 1974. Projectando a coragem e a poesia de uma revolução de flores, através de uma ordem cósmica, até hoje oculta, e nunca suficientemente analisada pelos seus auditores e até pelos seus companheiros de carreira.
O brilho de Mértola, enquanto polo de dinâmicas comerciais e civilizacionais, não teve sempre a mesma intensidade. E tenho noção exacta de que cidades em outros pontos geográficos do ângulo mediterrânico, a superam em projecção e dinâmica. Mas aqui falo do Interior. De um ponto já muito recuado nas rotas de navegação fluviais da antiguidade, a que Mértola ainda teve acesso. Dada a natureza do seu Rio, navegável ao longo de 70 quilómetros, daqui até ao Golfo de Cádiz.
Três ou quatro aspectos fundamentais guardam ou revelam o que me trouxe a este ecrã. E de forma generalizada, ao universo da comunicação. Atravessando sempre o espaço, orientado pelo sentir que me nasce do relacionamento íntimo com estas paisagens.
Ter tido a oportunidade de presenciar a Mina de S. Domingos ainda a trabalhar em seus derradeiros dias, e ter sido um pequenino protagonista do drama representado na realidade sobre o palco do seu inferno, são aspectos, a par dos que se seguiram, componentes sócio culturais que de imediato se sedimentaram em mim como genéticas, não podendo nunca mais deixar de as ter como referências cruciais, em todas as minhas orientações e escolhas.
Ter observado o meu primeiro ecrã no fundo branco da parede do meu quarto, ao despertar de uma sesta, e as imagens da rua em frente que nele se projectavam e moviam inversamente, emitidas a partir de um pequeno orifício que havia na janela atrás de mim, a envolverem-me como se no interior de uma câmara de cinema gigantesca, tomei aí noção solitária, de que aquele momento, mais era uma informação e uma ordem surpreendentes, que eu tinha de interpretar e seguir. Certamente que este acontecimento, ocorreu antes da minha primeira visita a Mértola, ainda não tinha 5 anos de idade.
Não menos influentes, foram a minha proximidade afectiva a José Afonso. O grande comunicado que o seu espírito irradiou na Obra Cantigas do Maio, forçando o acontecimento do 25 de Abril de 1974. Projectando a coragem e a poesia de uma revolução de flores, através de uma ordem cósmica, até hoje oculta, e nunca suficientemente analisada pelos seus auditores e até pelos seus companheiros de carreira.
Cantigas do Maio, é o anúncio prévio e consumado da maior expressão de Liberdade e de Amor que através de Portugal, o Mundo até hoje conheceu e ainda mal experimentou. O Golpe de Estado de 25 de Abril de 1974, só não resvalou para uma tragédia de proporções colossais, porque aquele disco foi escrito e publicado poucos meses antes. E também porque, o sentir magestoso de Salgueiro Maia o interpretou plenamente, e agiu a partir dos referenciais de José Afonso. Foi só por isso, apenas por este fenómeno cósmico, de uma precisão matemática inda não estudada, que o Golpe de Estado de Abril se transformou numa Revolução de Flores.
José Afonso, queria cantar na Festa do Avante e a direcção do maior evento cultural de Portugal, não lhe facilitou ali a entrada durante muitos anos. José Afonso diluía em si uma dor tremenda afecta a esta realidade. Estes são os inconfessáveis pecados da esquerda, com as suas culpas de cartório, em todo o processo posterior, em que as mentes empedernidas procuraram neutralizar a esquerda, com a própria assinatura da esquerda. Permitiram-se e trouxeram-nos por isso, em regressão à insuficiência e ao escuro. Senti aqui a última oportunidade histórica de Portugal desfeita, como há 2080 anos a Lusitânia, perecendo outro sonho imenso, como se o de Viriato, uma segunda vez.
José Afonso veria finalmente a proposta para a sua actuação na Festa do Avante de 1982. Perante uma audiência gigantesca, extraordinariamente dinâmica e feliz, eram 7 da tarde de Sábado no Alto da Ajuda. Lembro cada um daqueles rostos, formando a mais bela multidão até hoje por mim observada. O Armando Carvalheda pôs-me dentro do palco e eu cantei com o Zeca, As Sete Mulheres do Minho. José Afonso já estava doente e algo debilitado. Adriano Correia de Oliveira tinha morrido de desgosto recentemente. Aí já era tão tarde... Para tantas coisas... Por tantas perdas...
Premeditarem os homens do Poder, qualquer que seja o Poder, o assassinato de sonhos desta grandeza, constitue-os eternos arguídos nos repetidos colapsos da movimentação da Humanidade.
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Copyright: Germano Vaz - World Arts Gallery - Sociedade Portuguesa de Autores - 8/2009
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